Chove lá fora e aqui...também.

Definitivamente: sou uma guerreira.
(ou no mínimo corajosa)

Porque ter vindo trabalhar, após enfrentar o cruel dilema com o qual deparei-me logo cedo, só com muita força.

Lembrando que muito cedo, é muito cedo mesmo. 

A não ser que alguém ache que 05h30 não é cedo

Após uma deliciosa e curta noite de sono sou despertada por Sade cantarolando bem pertinho do meu ouvido. Abro um olho só pra conferir a hora, e cerfiticar-me de que eu realmente tenho que levantar. Vinda de uma sessão contínua e controlada de "sonecas", levanto-me e caminho com passos embriagados de bocejos até o banheiro...

Normalmente, nem vou até a sala para olhar 'lá fora' , pois volto imediatamente para meu quarto com objetivo de vestir-me com a primeira roupa que ver pela frente, observando alguns critérios como: a blusa não deixar a barriga de fora, a calça jeans servir (muito importante), entre outros.

Mas não dessa vez. 

Hoje o ton acinzentado vindo da sala deixou-me curiosa. E já dizia minha avó que curiosidade mata. Nesse caso, matou a minha coragem.

Olhando para fora não consigo enxergar nada além de uma massa banca e molhada.

Chuva, muita chuva.

Volto para meu quarto escuro, aconchegante e ainda quentinho e envolto por uma nuvem de preguicinha e digo quase em voz alta: "hoje não vou trabalhar. nem-a-pau"

Nem um instante completa-se e penso já com olhinhos para cima: "tá...eu vou. não tem como não ir."

E esse bate volta entre as Anas que em mim habitam durou aproximadamente um longo minuto até que, aquela que tem contas a pagar, decidie vestir-se e respirar fundo para então enfrentar a aguaceira e partir rumo ao maravilhoso mundo da Petrobras.

Concluído o processo de arrumação, pego minha pequena bolsa meio aberta e cheia de coisas, o guarda-chuva vermelho com bolinhas brancas e desço o elevador tentando organizar tudo, com a delicadeza que me é pertinente.

Ligo para o motorista da van e peço que ao invés de me apanhar no outro lado da avenida, que o faça em frente ao meu prédio, para que eu não seja avassalada pela chuva que parece ainda ser uma revolta do São Pedro,  furioso com tantos xingamentos por mim proferidos (naquele dia em que não pude caminhar).

Acordo feito. 

Inútil.

O caminho do meu prédio até a portaria parece mais uma prova de resistência do No Limite, ou algo tão difícil e constrangedor como.

A chuva não cai de cima para baixo, como espera-se de qualquer coisa que esteja caindo.

Não. Não essa chuva.

Essa enfrenta as leis da física e percorre um caminho bizzaro: de baixo para cima/de um lado para o outro.

Não sei se rio, se choro, ou os dois juntos.

E rindo do meu banho começo a emputecer-me, pois sei o quanto a van estará gelada com aquele bendito ar condicionado.

Em algum momento pensei que a portaria pudesse proteger-me da chuva das trevas, mas não.

Não nessa portaria.

Afinal de contas, estamos em Aracaju, verão, sol, praia, tempo seco e feliz. Sempre, né, senhor Engenheiro?

Tá certo pessoal do planejamento, tá certo.

Em Aracaju não chove! Portanto para que gastar lápis e dinheiro com uma portaria que proteja os moradores de uma eventual chuvinha de nada, né?

Banho completo, por favor.

A van chegou, que legal!

Agora só faltam aproximadamente 75 minutos dentro de um carro chacoalhante e gelado, com  um cheirinho delicioso de cachorro molhado, até chegar para mais um lindo e feliz dia de trabalho!

Viva a Copa do Mundo!